A MENSTRUAÇÃO DA ASCENSORISTA
Uma vez por mês ela carregava uma sacola anexa à sua bolsa de napa preta. Sacola de plástico de supermercado com a inconfundível embalagem de modess ou sempre livre. Dia incômodo: cólica enxaqueca e cabelo ressecado. As pernas doendo um pouco, as costas querendo encosto e a cabeça pedindo: “Calma Jorge!”... Jorge, que não percebia nunca a transformação de Anete. E isso a deixava insegura, infeliz, inútil. Inútil, sim. Porque Jorge, quando ouvia “compreenda, é só uma vez por mês, meu amor!”, já ficava impaciente, inquieto, emburrado. Jorge ficava tão frio que ela passava o dia subindo e descendo o elevador sem dar conta que a menstruação poderia lhe causar “surpresas”. Anete só pensava no Jorge. E só sabia que odiava menstruar e que, se Deus fosse mulher, a coisa seria bem diferente: “Eu não seria Anete. Com certeza, eu me chamaria Jorge”.
Malluh Praxedes – Jornalista, escritora e produtora cultural de BHZ.
sexta-feira, 14 de março de 2008
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